quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Manifestações de médicos ampliam crise em hospitais públicos de Santa Catarina


Greve de servidores, centro cirúrgico fechado, pacientes em cadeiras de praia nos corredores, médicos pedindo intervenção federal.

O momento em hospitais públicos do Estado é de crise. O governo admite desconforto nas unidades, mas considera que o Estado tem índices positivos na área e vê exagero nas manifestações.
A situação considerada mais problemática está encravada no Centro de Florianópolis, no Hospital Governador Celso Ramos. Referência no atendimentos de traumas, o local permaneceu com o seu cirúrgico fechado por quase todo a quarta-feira. A emergência só atende casos gravíssimos.
Não bastasse a paralisação de servidores que alcança cerca de 60 meses, o quadro ficou ainda pior com declarações de dois médicos.

Um deles, o próprio diretor do Celso Ramos, Ivan Moritz, no cargo desde março. Moritz disse que a greve apenas escancara um caos já existente há 12 anos na instituição como falta de servidores e problemas de gestão na saúde e governo.

Não menos duras foi a posição oficializada em documento endereçado ao Ministério Público Federal pelo médico Vicente Pacheco Oliveira, presidente do Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina, no qual pede a intervenção federal na saúde. Ele acusou os gestores públicos do governo estadual de estarem sendo irresponsáveis e trata o caso como de omissão criminosa.
- O Cremesc zela pela proteção da população e não para defender médicos. E a medicina na Grande Florianópolis, nas unidades da SES tem sido extremamente prejudicada por uma série de problemas. Isso é uma condição que não dá para ser irresponsável a ponto de deixar que pessoas percam a vida em função de falta de equipamentos, pessoal, insumos - descreveu o presidente.
Vicente exemplificou o drama citando um relato que o Cremesc recebeu envolvendo a maternidade Carmela Dutra, na Capital, de uma gestante com uma criança em sofrimento fetal que não foi atendida.
A promotora Sonia Maria Demeda Groisman Piardi, que atua na promotoria da Cidadania e direitos à Saúde, em Florianópolis, acredita que a solução urgente é o fim da greve dos servidores.

Ela defende ainda julgamento de recurso pelo Tribunal de Justiça em que pediu a reposição de pessoal nos hospitais Celso Ramos e Infantil, e maternidade Carmela Dutra, em suas UTIs e setores de emergência.
Na noite de quarta-feira, o secretário-adjunto de estado da Saúde, Acélio Casagrande, afirmou que três salas do centro cirúrgico do Celso Ramos voltaram a operar.

Ele reconheceu a diminuição de servidores em razão da greve e sinalizou para um acordo com o SindSaúde ainda hoje.

Sobre a proposta de intervenção federal, Acélio achou exagerada e disse que a área federal não consegue resolver problemas graves que existem por exemplo no Hospital Universitário (HU).
ENTREVISTA: Vicente Pacheco Oliveira, médico presidente do Cremesc:
Diário Catarinense - O senhor fala no pedido de intervenção que há omissão criminosa na saúde em SC...
Vicente Pacheco Oliveira -
 O Cremesc zela pela proteção da população e não para defender médicos. E a medicina na Grande Florianópolis, nas unidades da Secretaria de Estado da Saúde, tem sido extremamente prejudicada por uma série de problemas. Isso já vinha antes da greve dos servidores. Vinhamos alertando. A coisa vem se agravando, a greve piorou. Na segunda-feira, os diretores dos hospitais relataram casos dramáticos, até com possibilidade de perda de vida. Isso é uma condição que não dá para ser irresponsável a ponto de deixar que pessoas percam a vida em função de falta de equipamentos, de pessoal, de insumos.
DC - Há perda de vidas? 
Vicente -
 Já temos relato do diretor clínico da Carmela Dutra, de que uma gestante com uma criança em sofrimento fetal não teve condição de atendimento porque não tinha condições de atender aquela criança naquele momento. Ela foi transferida e isso precisa de atendimento imediato.
DC - Ela faleceu?
Vicente -
 Nós não acompanhamos, no momento não tenho condições de lhe dizer. A gestante não, mas a criança muito provavelmente, porque isso requer medidas rápidas na solução do problema, ou indicar um parto ou uma cesária.
DC - Nesse momento, a intervenção federal poderia amenizar o problema?
Vicente -
 Olha, isso já me foi perguntado. Todas as medidas, as instituições têm as suas atribuições. O sindicato tem uma atribuição sindical, lutar pela remuneração do médico, pelas condições do trabalho. O conselho tem que lutar pela defesa da sociedade e da prática da boa medicina, mas como vamos fazer diante dessas condições: falta de pessoal, de insumos, de medicamentos.
DC - Hoje, no momento, o que precisa na saúde de SC?
Vicente -
 Que se tomem as medidas indicadas pelas entidades médicas, diretores e clínicos dos hospitais. Por exemplo, aquisição de medicamentos, insumos para centros cirúrgicos e emergência. Há equipamentos danificados, mas ainda se consegue atender. O grande problema é quando não se tem medicamento básico.
ENTREVISTA: Acélio Casagrande, secretário-adjunto de estado da Saúde em SC
DC - O que o Estado está fazendo para melhorar a situação do Hospital Celso Ramos?
Acélio Casagrande -
 Já fizemos hoje (quarta-feira). Há três salas funcionando depois de ações que tomamos.
DC - O diretor do Celso Ramos afirmou que o caos já existe lá há muito tempo e que a greve apenas escancarou a situação. Como vê essas declarações?
Acélio -
 Se você for em qualquer pronto-socorro vai ver que há inúmeras pessoas que ficam aguardando subir para uma cirurgia, ou um leito. Isso ocorre em todos os hospitais. Ali, o número de pacientes também não é diferente de muitos hospitais pelo Estado e Brasil. O que está acontecendo agora é que se acirrou mais pela greve. A greve que trouxe essas dificuldades todas. É verdade que tem um número de profissionais que saíram, mas não foram substituídos. Começamos a fazer substituição no Hospital Regional, contratamos 570 funcionários, e isso gerou uma greve porque as pessoas ganhavam hora-plantão, hora-extra. E ao contratar 570 pessoas, gerou esse desconforto porque entenderam que não iriam ter mais a remuneração de 15 horas a mais por semana. Então seguramos um pouco as contratações e daí as dificuldades. Esperamos que a greve acabe logo e depois vamos readequar e chamar novos funcionários.
DC - Em relação a greve, há nova proposta?
Acélio -
 Sim, estamos reunidos novamente com o comando de greve. Continuamos discutindo e esperamos que até amanhã (quinta-feira) consigamos apresentar oficialmente nova proposta.
DC - O presidente do Cremesc pede intervenção federal na saúde de SC, como reage a isso?
Acélio -
 É uma posição um pouco exagerada. Se for no HU, por exemplo, que é federal, os problemas são graves também. Inclusive estava de greve até pouco tempo. O governo federal não bota 4% na saúde. Durante 10 anos, discutimos para aumentar isso para 10% na emenda 29. Aquele era o momento de manifestação. A gente recebe essa manifestação, mas elas devem ocorrer em alguns momentos também de ampliar os recursos.
DC - Não vê então necessidade de ação federal na saúde de SC?
Acélio -
 Não, em hipótese alguma. O SUS é único. O Hospital Celso Ramos fatura com o SUS em torno de R$ 1,3 milhão e o custo dele mensal é de R$ 8 milhões mês. Essa diferença é bancada com recursos do Estado.
DC - O senhor considera que há crise na saúde?
Acélio - 
Temos 200 hospitais em SC. Temos 192 funcionando e oito com 20% em greve. Esses 20% nesses hospitais, que são referência, realmente estão criando esse desconforto, essa situação lamentável. Mas a saúde de SC como um todo tem um dos melhores indicadores de saúde do Brasil, em mortalidade infantil, em transplantes. É claro que estamos trabalhando em choque de gestão, em novo modelo de gestão dos hospitais. Essa provocação que houve, essa greve, essa reação de contratar novos funcionários, você vai ver que vai reverter em coisas boas para SC. Vamos criar um modelo de gestão com produção, com profissionais com dedicação mais exclusiva. Não pode o paciente ficar 60 dias num leito gastando dinheiro público para uma cirurgia que o paciente pode chegar hoje e operar amanhã. Então problemas ocorriam ao longo de muitos anos. Nós vamos corrigir isso.

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