sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Falta de ração ameaça milhares de marrecos no Vale do Itajaí


Animais de alguns avicultores de Apiúna ficaram sem comida por vários dias


Assim que Olívio Francês abre as portas do galpão, milhares de filhotes de marreco vêm em busca de comida. Magros, com as penas caindo e até machucados por se mutilarem, os animais, com 17 dias de vida, estavam há seis sem comer. 

Durante a madrugada desta quinta-feira, um carregamento com 2,8 mil quilos de ração foi dado aos 15 mil filhotes, porém, a fome ainda fazia com que os bichinhos buscassem alimento. Cerca de 20 deles morreram de tanto comer. A carga duraria apenas até o meio dia. 

Avicultor há 16 anos em Apiúna, Francês diz nunca ter passado por uma situação dessas. Ele cria os marrecos para a Villa Germania, maior empresa produtora de carne de pato, marreco e derivados da América Latina, que tem ainda outros sete avicultores na cidade. Segundo Francês, a empresa não vem fornecendo ração suficiente para o tratamento dos animais. 

— Eles precisam comer uma ração específica que só a empresa pode dar. Se a situação não melhorar, não sei o que serão deles (animais) — lamenta. 

O avicultor explica que depende unicamente da criação de marrecos para manter o sustento da família. O resultado da crise que vivencia são dívidas que vão desde empréstimos com parentes até a falta de pagamento das prestações do financiamento no banco. 

— Sempre batalhei para ter o nome limpo e nunca ficar devendo para ninguém, mas não consegui segurar toda essa dificuldade. Estou vivendo a pior situação da minha vida — desabafa. 

O futuro para a família é incerto. Apesar disso, Francês espera que a ração volte a ser fornecida para os filhotes, pois fica triste vendo os animais desnutridos. Ontem, de tanto comer, 20 deles foram encontrados mortos. O avicultor estuda plantar morangos ou hortaliças para não depender somente de uma única fonte de renda. 

A Polícia Ambiental de Blumenau esteve ontem de manhã na propriedade dos avicultores e na empresa. Segundo o comandante, tenente Márcio Jean Ricardo, a situação será acompanhada e um relatório deverá apurar as responsabilidades de cada um na alimentação dos marrecos: 

— A polícia atua no caso de maus tratos. Caso isso se configure aqui, acionaremos o Ministério Público. Também fomos até a empresa (Villa Germania), que disse estar normalizando o abastecimento. 

O que diz a empresa
Afetada pela crise mundial do mercado de grãos, causada pela seca e queda da produção do milho nos EUA, a Villa Germania reconhece que há dificuldades no fornecimento de ração, mas afirma que a situação já está praticamente normalizada. A Villa Germania informa que, em função disso, já havia feito a redução de 35% de seu plantel de animais. Por parte da empresa, não há orientação nem autorização para o abate das aves pelos fornecedores integrados. 

A empresa ressalta ainda que trabalha ativamente para que não haja nenhum tipo de dano à saúde dos animais, sendo os produtos submetidos às mais rigorosas normas de qualidade e à legislação do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e Dipoa (Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal), além de diversos países importantes importadores. A Villa Germania reafirma o seu compromisso com a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida animal em todas as etapas de produção.

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